Livre pensar é só pensar!

Para não desligar os neurônios

Dengosa, a teimosa…

Desde pequenina, em meio aos seus irmãos de ninhada, ela era chorona: era só eu chegar ao terreiro com comida nas mãos, todos corriam alvoroçados para perto de mim, mas ela sempre piando choroso, como reclamando atendimento diferenciado. Por isso dei-lhe o nome de Dengosa e dengosa ela cresceu, fazendo sempre a sua chantagem emocional para comigo, apesar de eu não dar muita trela para as suas frescuras.

Ainda frangota, subia no poleiro onde as adultas colocavam seus ovos e lá ficava observando, como se estivesse aprendendo como se faz. Tornou-se galinha, botou seus ovos e, um belo dia, apareceu choca em um dos ninhos, piando chorosa quando me aproximei para coletar os ovos. Fiquei com pena e deixei-a lá, completando dez ovos para ela “gestar” (incubar). “Gestação” difícil, em função da desorganização coletiva: colocavam ovos novos em seu ninho, já que ela não enxotava as invasoras como fazia a Pedrinha. O seu ninho era como casa-de-Mãe Joana, todo mundo invadia e desovava. E o resultado foram apenas dois pintinhos nascidos e muitos ovos perdidos.

Seguindo a minha lógica de criador, comprei mais oito pintinhos para inserir na sua restrita ninhada, mas quem disse que ela aceitou? Não sei se ela sabia contar, mas bicava todos os filhotes estranhos e não permitia-os sob si. Aí eu fiquei puto! Peguei todos os pintinhos (inclusive os dela) e fechei no viveiro, para criar sob meus cuidados. Aí sim, a Dengosa virou o cão: ficava se lamentando sob a gaiola o dia inteiro e quando eu chegava ela ficava andando de lá pra cá, reclamando em altos e chorosos cacarejos. Mas me mantive firme e só os liberei quando já não precisavam de mãe…

Pois é… Mais de ano depois (há cerca de dois meses), Dengosa choca de novo e se apossa (da mesma forma medrosa de antes) de um dos ninhos existentes. Como não queria passar pela mesma aperreação de antes, expulsava-a diariamente do ninho e carregava os ovos. E ela lá, aguardando que uma nova galinha colocasse ovos para deitar-se em cima. Um saco… Uma semana depois, me invoquei e dei-lhe um banho em regra (como fazia minha mãe), para que ela deixasse o choco. Que nada! No outro dia, lá estava a Dengosa de plantão sobre os ovos do dia. Mais banho, tapas, e nada, a Dengosa firme em sua obssessão materna. Dei-lhe um último e desesperado banho, amarrei-a pelo pé ao relento durante uma noite e nada: foi só soltá-la e ela correu piando para os ninhos, abancando-se naquele que tinha mais ovos…

Aí tive uma idéia: como as patas estavam botando e os ovos delas são diferentes, coloquei estes ovos sob ela e diariamente coletava apenas os ovos que as galinhas invasoras inseriam no seu ninho. Aí surgiu mais um problema: a pata Branquinha, também teimosa, só botava ovos no ninho da Dengosa e os ovos eram iguais! Lá vou eu marcar os ovos antigos e armazenar os novos! Logo depois piorou: a pata Branquinha também chocou e eu tive que colocar ovos sob ela (no ninho ao lado) para induzí-la a deixar a Dengosa em paz. Consegui… Ufa!!

Mas veio o momento da eclosão! E como os ovos do ninho da Dengosa tinham tempos diferentes de incubação, nasceram os primeiros quatro patinhos, com os outros a eclodirem nos vários dias seguintes. Nas primeiras quarenta e oito horas, tudo bem, os patinhos sob ela, em meios aos ovos restantes. No terceiro dia, os quatro filhotes precisavam começar a comer e beber e a Dengosa queria levá-los para o terreiro, mas só um a acompanhou. Os demais pularam para o ninho da Branquinha, atendendo aos seus apelos sonoros e que lhe soaram mais familiares (talvez por ser da própria espécie). E aí? Lá vou eu, devolvo os três patinhos ingratos à Dengosa, no terreiro, e coloco os ovos tardios sob a Branquinha, aumentando sua futura ninhada (sei que vai dar problemas posteriores, mas era a altenativa). Resolvido? Nããããooo! A Branquinha abandona o ninho e vai pro terreiro, atrás dos filhotes! E agora, quem vai chocar os ovos de ambas e que faltam eclodir? Aí eu alopro: pego a Dengosa com os patinhos, prendo na gaiola que tenho na varanda da casa e recoloco a Branquinha em seu ninho. Caraca, eu pensei que ia ter trabalho e aporrinhação, mas nem tanto…

Hoje, quatro dias após, amanheci na varanda, tomando café, fumando e observando a Dengosa e seus filhotes na gaiola. Tá só penas e ossos, magra pelo choco prolongado, mas feliz. Os patinhos circulam à sua volta, catam restos de ração no seu bico, e ela vai à loucura feliz das mães… Eles sobem às suas costas, bicam um cafuné curioso em sua cabeça e ela até fecha os olhos de prazer. Eles se aninham sob ela e ela abre as asas generosas. Pálida, olheiras, mas feliz… Engaiolada para fugir dos conflitos coletivos, sem espaço para andar e mostrar aos filhos como buscar alimentos no ambiente, mas com aquele ar feliz de quem finalmente vai ser mãe plena…

Olho-a e penso: que bom que, muitas vezes, a teimosia proativa é premiada… E penso também: como é bom, apesar de trabalhoso, ter netinhos de penas para curtir ao amanhecer. E puxo uma tragada profunda, imaginando a mão de obra que vou ter com a Branquinha e meus novos netos, nos próximos dias…

quarta-feira, 31 agosto, 2011 Posted by | Crônica, Pequenas histórias | , , | Deixe um comentário

Constatação cada vez mais inevitável…

Dilma já tinha avisado: aperta e juros caem

quarta-feira, 31 agosto, 2011 Posted by | Repassando... | , , | Deixe um comentário

Procurando o elefante? Olha ele aí…

29 Aug

Via Brizola Neto

E quem é o caloteiro, vejam só

Todo mês, os jornais publicam que os bancos registram que a taxa de inadimplência aumentou e a todo momento repete que os juros praticados são altos, entre outras razões, porque o “spread” – ferença entre o que pagam pelo dinheiro e o que cobram para emprestar – é alto porque tem de cobrir os prejuízos que sofrem com o calote de maus pagadores.

E só hoje – antes tarde do que nunca – a Folha registra que, caloteiro mesmo, e de bilhões, é o sistema bancário, que “infla” as perdas com inadimplência para reduzir a incidência de importo sobre suas operações. Sonegação, mesmo, é a palavra

Só que sonegação de rico tem outro nome: planejamento tributário. E uma outra palavra incomum: elisão fiscal. As operações ganham contabilmente, nomes e formas para isentarem-se de imposto.

Segundo a Folha, só em 2011, as autuações chegam a R$ 5,9 bilhões, englobando sonegação de impostos em fusões, em aquisições e em  empréstimos entre bancos. Em 2010, foram R$ 6,9 bilhões, valor maior do que o dos três anos anteriores somados.

E são estes senhores que nos falam em carga tributária elevada, recomendam cortes nos programas sociais, etc, etc, etc…

segunda-feira, 29 agosto, 2011 Posted by | Repassando... | , | Deixe um comentário

Se os critérios humanitários e democráticos valessem para todos…

segunda-feira, 29 agosto, 2011 Posted by | Repassando... | , , , | 1 Comentário

Um convite para discutir a Vida…

O VENENO ESTÁ NA MESA
Um filme de Sílvio Tendler

“Cada brasileiro consome em média 5,2 Kg de agrotóxicos por ano. Até quando vamos engolir isso?”

No dia 22 de agosto, às 19 horas, no Museu da República (ao lado da Catedral), lançamento no Distrito Federal do renomado documentário “O veneno está na mesa”.

Após o filme, debate com o cineasta Sílvio Tendler.

O evento é gratuito e aberto ao público.

Informações: contraagrotoxicosdf@gmail.com

Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida

sexta-feira, 19 agosto, 2011 Posted by | Repassando... | , , , | Deixe um comentário

E por falar em princípios editoriais da Globo…

(Via Blogue do Paulinho)

O PODER DA MÍDIA E O PODER DO PÚBLICO (*)


Vendas de aparelhos de ginástica milagrosos, jóias, remédios para dietas revolucionárias. Exploração da miséria, exposição de mulheres como mercadorias, cenas de humor humilhantes e pegadinhas. A televisão comercial brasileira superou todos os limites e se tornou moral e eticamente indefensável. Sua programação é basicamente composta por novelas, telejornais expressos – que dão notícias em 30 segundos e mal permitem a digestão do que está sendo mostrado –, programas humorísticos que exploram a violação dos direitos humanos e brincam com a dignidade das pessoas para produzir um riso sem a mínima graça.No nosso dia-a-dia, assistimos na TV aberta a um monólogo de empresários que, em público, vestem a máscara da responsabilidade social, mas que, para manter seu poder, movem-se em busca do lucro. Neste processo, determinam quem pode ou não ser ouvido pela sociedade. Tratam a informação como mercadoria e abusam da liberdade de expressão, que se materializa na violação dos direitos humanos, no desrespeito às pessoas, na criminalização dos movimentos sociais e populares e na exploração do mundo-cão. Para usar um termo que se tornou bastante popular nos últimos anos, a tônica dessa desafinada sinfonia é a baixaria.Isso tudo ocorre num espaço pelo qual os concessionários de TV deveriam zelar, produzindo e veiculando uma programação que contemplasse a diversidade, que atendesse aos interesses públicos e contribuísse para a formação de uma sociedade mais democrática e justa – e não perpetuasse o preconceito e reforçasse as marcantes desigualdades do país.

O respeito e o zelo por este espaço devem existir pelo fato de ele ser público. Ao contrário de um entendimento comum de que os concessionários são donos dos canais que operam, o direito de explorar uma freqüência e transmitir conteúdo (ganhando dinheiro com isso) é concedido pelo Estado brasileiro, em nome do povo, ou seja, de cada um de nós. Isso acontece, em primeiro lugar, porque o espectro eletromagnético é um bem escasso, cuja exploração precisa ser organizada para que este espaço seja ocupado da melhor forma. Além disso, o papel do Estado na regulação do setor se faz necessário quando compreendemos a radiodifusão como um espaço fundamental para o exercício de direitos humanos, como a liberdade de expressão e o acesso à informação e à cultura, entre outros.

Diante da atual centralidade da mídia em nossa sociedade, desde a formação de valores até a conformação da opinião pública, há deveres CONSTITUCIONALMENTE ESTABELECIDOS que os concessionários de TV devem cumprir sob pena da perda da concessão. Entre eles, o respeito à dignidade humana, à honra, à liberdade e à privacidade alheias.

No Brasil, a importância do cumprimento desses deveres se faz ainda maior, em função de um cenário em que o poder da televisão, como veículo de informação e entretenimento, é quase absoluto. Presente em 90,3% dos domicílios brasileiros (IBGE/PNAD, 2005) – número que supera o de casas com geladeira e as atendidas por serviços de saneamento básico –, o acesso à TV é infinitamente superior àquele aos meios impressos: 39% dos brasileiros não lêem revistas ou têm acesso a elas menos de uma vez por trimestre; 48% dos brasileiros não lêem jornal ou só têm acesso ao veículo menos de uma vez por semana. A tiragem do maior jornal do país não chega a um milhão e a internet chega a somente 15% da população.

Num país onde ainda existem 15 milhões de analfabetos e 33 milhões de analfabetos funcionais, pode-se dimensionar o potencial da televisão e do rádio na criação e manutenção de valores na sociedade.

Numa ponta desta comunicação, então, está a maioria esmagadora dos brasileiros. Do outro, estão grandes empresários, que usam a concessão que detêm para defender seus interesses políticos e econômicos. Este mercado é dominado atualmente por seis redes privadas nacionais,através de 138 grupos afi liados, que controlam 668 veículos (TVs, rádios e jornais) – instrumentos de poder regional e nacional.

Enquanto esses empresários detêm o poder da fala, 180 milhões de brasileiros se calam.

(*) -Texto do Livro: “A sociedade ocupa a TV” – Intervozes – pags: 13 e 14

Publicada por Paulo Cavalcanti
em Quinta-feira, Agosto 18, 2011

sexta-feira, 19 agosto, 2011 Posted by | Repassando... | , , | Deixe um comentário

A Internete como ferramenta de participação política dos movimentos sociais

O cantor-humorista Falcão filosofou: “dinheiro não é tudo, mas é 100 por cento”. Lembrei-me desta “tirada” ao ler o artigo do Azenha que repasso abaixo, onde ele relativiza a importância da internete nos movimentos sociais contemporâneos, mas também aborda as perspectivas novas de compartilhamento e participação popular pela via virtual, em um mundo contemporâneo que, em sua versão oficial, fecha cada vez mais as portas para a cidadania plena. E parafraseando o Falcão, acho que a Net não é tudo, mas é 100 por cento.

Leiam o artigo, que é longo, mas muito interessante…

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16 de agosto de 2011 às 21:17

Telegraph: Há algo cheirando mal no Reino Unido

por Luiz Carlos Azenha

Estou entre os que acreditam ser uma bobagem chamar a derrubada de Hosni Mubarak de “revolução do Facebook”. Ou atribuir o quebra-quebra londrino ao BBM, o mensageiro do Blackberry. Nada disso teria acontecido se não houvesse demandas sociais subjacentes. No caso do Egito, falta de comida, de emprego e de democracia. No caso da Inglaterra, gente que não tem compromisso com o status quo. Volto ao visionário John Kenneth Galbraith, que ainda nos anos 80 falava do surgimento de uma sociedade paralela no entorno das grandes metrópoles, resultante das políticas do então presidente Ronald Reagan do “there is no free lunch in America”. Você tritura os sindicatos, destrói empregos, criminaliza os movimentos sociais e depois espera que as pessoas apresentem suas demandas de forma organizada e politizada? Fora dos sindicatos e dos movimentos sociais organizados… é o fascismo.

Mas, voltando ao Facebook, ao Twitter e ao Blackberry, não há como negar que as pessoas conversam entre si muito mais nos dias de hoje do que num passado não muito longínquo. Quando desembarquei em Nova York, em 1985, para ser correspondente da TV Manchete,  uma transmissão de imagens via satélite para o Brasil, de dez minutos, custava 1.500 dólares. Hoje, via internet, é de graça.
Nos anos 80, quando trabalhei na TV Globo de Bauru, se a emissora não enviasse uma equipe de reportagem a uma cidade da região para cobrir uma manifestação era como se o protesto não tivesse acontecido; hoje, os próprios manifestantes sobem o vídeo no You Tube e dispõem desta e de outras ferramentas inclusive para pautar a mídia convencional.

Meu ponto: é uma mudança extraordinária em pouquíssimo tempo. E pode contribuir para abrir um imenso fosso entre a linguagem hierarquizada do poder e a linguagem das ruas, maior ainda da que já existe. O exemplo deste descompasso vimos na Grécia, no Chile, na Espanha. As instituições obedecem a ritos e ritmos divorciados de sociedades altamente conectadas e ansiosas por transparência, respostas e resultados.

Colhi um pequeno exemplo disso no jornal britânico Telegraph, que publicou um artigo que teve uma imensa repercussão nas mídias sociais do país. É um artigo que não teria um centésimo da repercussão que teve se a capacidade das pessoas de distribuí-lo não fosse tão grande quanto é. Não importa se você concorda ou não com o conteúdo. Eu, por exemplo, acho que o texto é moralista e simplificador. Mas foi lido por centenas de milhares de pessoas, a maioria das quais não comprou o jornal. Elas não tiveram de ir atrás do artigo, o artigo veio até elas.

Não é por acaso que a polícia britânica simplesmente considerou fechar o twitter durante os distúrbios de Londres ou que as sentenças mais pesadas dadas até agora na Inglaterra foram para dois jovens acusados de “organizar” quebra-quebras via Facebook. Na falta de compreensão, na incapacidade ou na falta de vontade política para lidar com as questões de fundo, a culpa é,
literalmente, do messenger.

Fiquem com o artigo:

The moral decay of our society is as bad at the top as the bottom [A decadência moral de nossa sociedade é tão grave no topo quanto na base]

By Peter Oborne

August 11th, 2011

David Cameron, Ed Miliband e toda a classe política britânica se juntaram ontem para denunciar os amotinados. Eles naturalmente estavam certos ao dizer que as ações dos saqueadores, incendiários e assaltantes eram abomináveis e criminosas, e que a polícia deveria receber mais apoio.

Mas havia também algo muito falso e hipócrita sobre o choque e o ultraje expressos no parlamento. Os deputados falaram sobre os terríveis eventos da semana como se não tivessem nada a ver com eles.

Não posso aceitar que seja este o caso. Na verdade, acredito que a criminalidade em nossas ruas não pode ser dissociada da desintegração moral dos escalões mais altos da moderna sociedade britânica. As últimas duas décadas testemunharam um terrível declínio dos padrões da elite governante britânica. Tornou-se aceitável que nossos políticos mintam e enganem. Uma cultura quase universal de egoísmo e ganância surgiu.

Não foram apenas os jovens ferozes de Tottenham que se esqueceram que tem tanto deveres quanto direitos. Assim é também com os ricos ferozes de Chelsea e Kensington. Alguns anos atrás, minha mulher e eu fomos a um jantar numa mansão no oeste de Londres. Um segurança vigiava o lado de fora da rua e houve muita conversa sobre uma “divisão norte-sul” , que eu aceitei literalmente por um tempo até me dar conta de que os donos da casa estavam se referindo a uma divisão entre os que moravam ao norte e ao sul da Kensington High Street.

A maioria das pessoas desta rua caríssima estavam tão desenraizadas e distantes do resto do Reino Unido quanto os jovens homens e mulheres desempregados que causaram tantos danos terríveis nos últimos dias. Para eles, a repulsiva revista do Financial Times chamada “Como gastar” é uma bíblia. Eu arriscaria dizer que poucos deles se importam em pagar impostos se puderem evitá-los e que menos ainda sentem algum tipo de obrigação com a sociedade que apenas algumas décadas atrás era “natural” para os ricos e os de cima.

Ainda assim celebramos as vidas vazias de gente que vive assim. Algumas semanas atrás, li uma nota em um jornal dizendo que o magnata dos negócios Sir Richard Branson estava pensando em transferir seu quartel-general para a Suiça. A medida foi descrita como um golpe em potencial contra o ministro das finanças George Osborne, porque resultaria na redução da arrecadação de impostos.

Não consegui deixar de pensar que num mundo são e decente, tal mudança seria um problema para o Sir Richard, não para o ministro. As pessoas notariam que um importante e rico homem de negócios estava fugindo dos impostos britânicos e pensariam mal dele. Em vez disso, ele foi condecorado e é amplamente bajulado. O mesmo é verdadeiro quanto ao brilhante varejista Sir Philip Green. Os negócios do Sir Philip nunca sobreviveriam sem a famosa estabilidade política e social do Reino Unido, sem nosso sistema de transporte para despachar suas mercadorias ou nossas escolas para educar seus trabalhadores.

Ainda assim Sir Philip alguns anos atrás transferiu um bilhão de libras [equivalentes a 2,6 bilhões de reais] em dividendos offshore e parece que não está nem um pouco disposto a pagar por isso. Por que ninguém se irrita e o responsabiliza? Eu sei que ele emprega caros advogados tributaristas e que tudo o que faz é legal, mas tem de enfrentar questões éticas e morais tão grandes quanto as colocadas para o jovem bandido que invadiu uma das lojas de Sir Philip para furtá-lo?

Nossos políticos — apoiados como fariseus na perna de trás, ontem, no Parlamento — são tão ruins quanto o Sir Philip. Eles já demonstraram que estão preparados para ignorar a decência e, algumas vezes, para violar a lei. David Cameron está feliz em ter alguns dos piores exemplos no ministério. Considerem por exemplo o Francis Maude, que é encarregado de enfrentar o desperdício no setor público — o que os sindicatos dizem que é eufemismo para guerrear contra trabalhadores de baixa renda. Ainda assim o sr. Maude ganhou milhares de libras ao violar o espírito, embora não a lei, na ajuda de custo dada aos parlamentares.

Muito se falou nos últimos dias da cobiça dos saqueadores por bens de consumo, inclusive pelo deputado de Rotherham, Denis MacShane, que afirmou com justeza, “o que os saqueadores queriam eram alguns minutos no mundo do consumo da Sloane Street”. Isso dito por um homem que usou 5.900 libras [o equivalente a 15.400 reais] de sua ajuda de custo para comprar oito laptops. Naturalmente, como um parlamentar, ele obteve os computadores legalmente, usando dinheiro público.

Ontem, o veterano deputado Gerald Kaufman pediu ao primeiro-ministro para avaliar como os saqueadores poderiam ser “reconquistados” pela sociedade. Sim, este é o mesmo Gerald Kaufman que pediu o reembolso de 14,301.60 libras [equivalentes a 37 mil reais] em três meses, inclusive 8,865 libras [equivalentes a 23 mil reais] por um aparelho de TV da Bang & Olufsen.

Ou considere o deputado de Salford, Hazel Blears, que tem pedido medidas duras contra os saqueadores. Eu acho difícil fazer qualquer distinção entre os golpes de Blears na ajuda de custo e na sonegação de impostos e os roubos na cara dura perpetrados pelos saqueadores.

O primeiro-ministro não demonstrou sinal de que entendeu que alguma coisa cheirava mal ontem no debate do Parlamento. Ele falou em moralidade, mas como algo que só se aplica aos muito pobres: “Vamos restaurar uma sensação de moralidade e responsabilidade — em toda cidade, em toda rua, em toda casa”. Ele parece não ter entendido que isso deveria ser aplicado também aos ricos e poderosos.

A verdade trágica é que o sr. Cameron em pessoa é culpado de não passar no teste da moralidade. Fazem apenas seis semanas ele apareceu sorridente na festa de verão da News International [a empresa de Rupert Murdoch], embora o grupo de mídia estivesse àquela altura não apenas sob uma, mas duas investigações policiais. Mais notadamente, ele deu uma posição de destaque no governo ao ex-editor do tabloide News of the World Andy Coulson, embora soubesse àquele altura que Coulson tinha se demitido depois que atos criminosos foram cometidos por subordinados. O primeiro-ministro desculpou a incapacidade desprezível de Coulson alegando que  “todo mundo merece uma segunda oportunidade”. Foi interessante que ontem ele não falou sobre uma segunda chance, quando prometeu punição exemplar para os amotinados e saqueadores.

Este duplo padrão de Downing Street [sede do governo britânico] é sintomático dos duplos padrões que existem no topo de nossas sociedades. Deveria ficar claro que a maioria das pessoas (inclusive, eu sei, os leitores do Telegraph) continuam a acreditar em honestidade, decência, trabalho duro e em colocar de volta na sociedade tanto quanto se tira dela.

Mas há os que não pensam assim. Certamente, os assim chamados jovens ferozes não se importam com decência e moralidade. Mas também os ricos e poderosos venais — muitos de nossos banqueiros, jogadores de futebol, homens de negócio e políticos.

Naturalmente, a maioria deles é inteligente e suficientemente rica para obedecer as leis. O mesmo não pode ser dito dos jovens homens e mulheres, sem esperança ou aspirações, que causaram a confusão e o caos nos últimos dias. Mas os amotinados tem esta defesa: eles estão apenas seguindo o exemplo das figuras respeitadas de nossa sociedade. Vamos considerar que muitos dos jovens de nossas metrópoles nunca foram treinados em valores decentes. Tudo o que conhecem é a barbárie. Nossos políticos e banqueiros, por outro lado, estiveram em boas escolas e universidades e tiveram as melhores oportunidades na vida.

Alguma coisa terrivelmente errada aconteceu no Reino Unido. Se vamos confrontar os problemas expostos na semana que passou, é essencial levar em conta que eles não existem apenas nos núcleos habitacionais.

A cultura da ganância e da impunidade que temos testemunhado em nossas telas de TV se estende até as sedes de empresas e ao ministério. Chega à polícia e a boa parte de nossa mídia. Não é apenas a juventude danificada, é o Reino Unido em si que precisa de reforma moral.

http://blogs.telegraph.co.uk/news/peteroborne/100100708/the-moral-decay-of-our-society-is-as-bad-at-the-top-as-the-bottom/

NY Times: Gringos vem tirar proveito do boom econômico do Brasil

Um certo John Kenneth Galbraith

Beto Richa é o nosso David Cameron?

quarta-feira, 17 agosto, 2011 Posted by | Comentário, Repassando... | , , , | Deixe um comentário

Feliz Aniversário, estóico Fidel…

13 Aug

Por Brizola Neto

Um homem que não se ajoelha, cria asas

O tempo, aos seres humanos, vai nos substituindo de presença para memória.

Na equação entre passado e presente que resulta no futuro, vamos nos tornando o primeiro, em lugar do segundo.

E aí, quando as décadas nos encolhem e encurvam, o valor dos atos humanos, dependendo do que fomos e fizemos, mingua ou reluz.

Há muito tempo, Victor Hugo escreveu, em seu magnífico “Os trabalhadores do Mar”, que diante do desconhecido e do medo trazido pela noite, “um  homem abate-se, ajoelha-se, prosterna-se, roja-se,        arrasta-se para um buraco, ou então procura asas.”

Sim, porque homens têm asas, e essas asas se chamam sonho, e  este sonho, se vira luta, torna-os gigantes, ainda quando o tempo apequena e fragiliza seus corpos.

Tão grandes que a grandeza os sublima, e os faz seguir, teimosamente, dando aos sonhos que encarnaram as últimas gotas de suas vidas, seus pensamentos,  as lições que aprenderam e que seus nomes espalham ainda.

Fidel Castro faz, hoje, 85 anos.

Aquele a quem tantas vezes se tentou matar enfrenta o tempo com a serenidade de quem sabe que seguirá vivendo. Um pouco mais, como homem. Muito e muito mais, como um grande pássaro, ao qual o  sonho e a luta deram –  ele deu a uma geração inteira – asas  para voar e vencer o medo.

Longa vida a Fidel e vida eterna a seus sonhos

sábado, 13 agosto, 2011 Posted by | Repassando... | | Deixe um comentário

Fundamentalismo: o ovo da serpente no ninho interior de todos nós…

See full size imageGraças às mídias contemporâneas (que em sua imensa maioria agem como instrumento de manipulação e dominação dos grupos sociais), é comum associar-se o conceito de fundamentalismo aos outros, nunca aos nossos próprios fundamentalismos. As nossas convicções de qualquer natureza, são a verdade, mas as convicções dos outros que colidem com as nossas “verdades”, são radicalismos inaceitáveis. Mesmo na pré-globalização, em sociedades ainda relativamente isoladas, estes comportamentos foram comuns (os cultos impérios contra os bárbaros colonizados, a graça da fé dominante contra a fé dos dominados, e assim por diante). E hoje, esta arma maldita do preconceito (decorrente destas visões unilatarais) torna-se cada vez mais perigosa, pelo fato de ser disseminada de forma cada vez mais rápida e cada vez mais ampla e envolvente. Hoje, o Estado militarmente hegemônico e que “combate o terrorismo”, não é diferente do país dominado que apela para as guerras santas para atacar. Apenas possui uma força maior de “persuasão” (pelas armas, ou pela mídia, ou pela aculturação), construindo uma legitimidade falsa para suas ações (e que na verdade ocultam interesses inconfessáveis).

O artigo que repasso abaixo aborda de forma muito transparente esta questão do fundamentalismo na vida contemporânea. Dêem uma olhada…

Bom domingo a todos e a todos os pais…
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DEBATE ABERTO

Ainda o fundamentalismo

O fundamentalismo que se caracteriza por conferir valor absoluto ao seu ponto de vista. Quem afirma de forma absoluta sua identidade, está condenado a ser intolerante para com os diferentes, a desprezá-los e, no limite, a eliminá-los. Este fenômemno é recorrente em todo o mundo.

Leonardo Boff

O ato terrorista perpetrado na Noruega de forma calculada por um solitário extremista norueguês de 32 anos, trouxe novamente à baila a questão do fundamentalismo. Os governos ocidentais e a mídia induziram a opinião pública mundial a associar o fundamentalismo e o terrorismo quase que exclusivamente a setores radicais do Islamismo. Barack Obama dos USA e David Cameron do Reino Unido se apressaram em solidarizar-se com governo da Noruega e reforçaram a idéia de dar batalha mortal ao terrorismo, no pressuposto de que seria um ato da Al Qaeda. Preconceito. Desta vez era um nativo, branco, de olhos azuis, com nivel superior e cristão, embora o The New York Times o apresente “sem qualidades e fácil de se esquecer”.

Além de rejeitar decididamente o terrorismo e o fundamentalismo devemos procurar entender o porquê deste fenômeno. Já abordei algumas vezes nesta coluna tal tema que resultou num livro “Fundamentalismo, Terrorismo, Religião e Paz: desafio do século XXI”(Vozes 2009). Ai refiro, entre outras causas, o tipo de globalização que predominou desde o seu início, uma globalização fundamentalmente da economia, dos mercados e das finanças. Edgar Morin a chama de “a idade de ferro da globalização”. Não se seguiu, como a realidade pedia, uma globalização política (uma governança global dos povos), uma globalização ética e educacional.

Explico-me: com a globalização inauguramos uma fase nova da história do Planeta vivo e da própria humanidade. Estamos deixando para trás os limites restritos das culturas regionais com suas identidades e a figura do estado-nação para entrarmos cada
vez mais no processo de uma história coletiva, da espécie humana, com um destino comum, ligado ao destino da vida e, de certa forma, da própria Terra. Os povos se puseram em movimento, as comunicações universalisaram os contactos e multidões, por distintas razões, começam a circular pelo mundo afora.

A transição do local para o global não foi preparada, pois o que vigorava era o confronto entre duas formas de organizar a sociedade: o socialismo estatal da União Soviética e o capitalismo liberal do Ocidente. Todos deviam alinhar-se a uma destas alternativas. Com o desmonte da União Soviética, não surgiu um mundo multipolar mas o predomínio dos EUA como a maior potência econômico-militar que começou a exercer um poder imperial, fazendo que todos se alinhassem a seus interesses globais. Mais que globalização em sentido amplo, ocorreu uma espécie de ocidentalização mundo e, em sua forma pejorativa,uma hamburguerização. Funcionou como um rolo compressor, passando por cima de respeitáveis tradições culturais. Isso foi agravado pela típica arrogância do Ocidente de se sentir portador da melhor cultura, da melhor ciência, da melhor religião, da melhor forma de produzir e de governar.

Essa uniformização global gerou forte resistência, amargura e raiva em muitos povos. Assistiam a erosão de sua identidade e de seus costumes. Em situações assim surgem, normalmente, forças identitárias que se aliam a setores conservadores das religiões, guardiães naturais das tradições. Dai se origina o fundamentalismo que se caracteriza por conferir valor absoluto ao seu ponto de vista. Quem afirma de forma absoluta sua identidade, está condenado a ser intolerante para com os diferentes, a desprezá-los e, no limite, a eliminá-los.

Este fenômeno é recorrente em todo o mundo. No Ocidente grupos significativos de viés conservador se sentem ameaçados em sua identidade pela penetração de culturas não-européias, especialmente do Islamismo. Rejeitam o multiculturalismo e cultivam a xenofobia. O terrorista norueguês estava convencido de que a luta democrática contra a ameaça de estrangeiros na Europa estava perdida. Partiu então para uma solução desesperada: colocar um gesto simbólico de eliminação de “traidores” multiculturalistas.

A resposta do Governo e do povo norueguês foi sábia: responderam com flores e com a afirmação de mais democracia, vale dizer, mais convivência com as diferenças, mais tolerância, mais hospitalidade e mais solidariedade. Esse é o caminho que garante uma globalização humana, na qual será mais difícil a repetição de semelhantes tragédias.

Leonardo Boff é teólogo e escritor.

sábado, 13 agosto, 2011 Posted by | Comentário, Repassando... | , , | Deixe um comentário

A ética “global”: discursou na sexta, já contradisse o discurso no domingo…

FAB responde ao Fantástico. É o “caosaéreo” do PiG (*)

    Publicado em 09/08/2011
    Via conversaafiada.com.br
É assim que o PiG (*) quer que você, amigo navegante, veja o “caosaéreo”

O Conversa Afiada reproduz nota da FAB, onde repudia reportagem do Fantástico:

Nota Oficial – Esclarecimentos sobre reportagem do Fantástico exibida em 07/08/2011


O Comando da Aeronáutica repudia veementemente o teor da reportagem do jornalista Walmir Salaro, levada ao ar no Fantástico deste domingo, sete de agosto, e no Bom Dia Brasil desta segunda-feira, oito de agosto.


A matéria em questão parte de princípios incorretos e de denúncias infundadas para passar à população brasileira a falsa impressão de que voar no Brasil não é seguro. A reportagem contradiz os princípios editoriais da própria Rede Globo ao apresentar argumentos com falta de Correção e falta de Isenção, itens considerados pela própria emissora como sendo atributos da informação de qualidade.


O jornalista embarcou em uma aeronave de pequeno porte (aviação geral), que tem características como nível de voo, rota, classificação e regras de controle aéreo diferentes dos voos comerciais. A matéria trata os voos sob condições visuais e instrumentos como se obedecessem as mesmas regras de controle de tráfego aéreo, levando o espectador a uma percepção errada.


O piloto demonstra espanto ao avistar outras aeronaves sobre o Rio de Janeiro e São Paulo, dando um tom sensacionalista a uma situação perfeitamente normal e controlada que ocorre sobre qualquer grande cidade do mundo. Nesse sentido, causa estranheza que a reportagem tenha mostrado a proximidade dos aviões como algo perigoso para os passageiros no Brasil. As próprias imagens revelam níveis de voo diferenciados, além de rotas distintas.


Além disto, o piloto que opta por regras de voo visual, só terá seu voo autorizado se estiver em condições de observar as demais aeronaves em sua rota, de acordo com as regras de tráfego aéreo que deveriam ser de seu pleno conhecimento. Mesmo assim, o piloto receberá, ainda, avisos sobre outros voos em áreas próximas.


Foi exatamente o que ocorreu durante a reportagem, que mostra o contato constante dos controladores de tráfego aéreo com o piloto. Desde a decolagem foram passadas informações detalhadas sobre os demais tráfegos aéreos na região, sem que houvesse qualquer perigo para as aeronaves envolvidas.


A respeito da dificuldade demonstrada em conseguir contato com o serviço meteorológico, é interessante lembrar que há várias frequências disponíveis para contato com o Serviço de Informações Meteorológicas para Aeronaves em Voo (VOLMET), que está disponível 24 horas por dia em todo o país. Além destas, há frequências de ATIS (Serviço Automático de Informação em Terminal) que fornecem continuamente, por meio de mensagem gravada e constantemente atualizada, entre outros dados, as condições meteorológicas reinantes em determinada Área Terminal, bem como em seus aeroportos. Como, aliás, é o caso da Terminal de Belo Horizonte, incluindo os aeroportos da Pampulha e de Confins.


Ressalte-se que, a despeito da operação de tais serviços, todos os pilotos têm a obrigação de obter informações meteorológicas antes do voo pessoalmente nas Salas de Informações Aeronáuticas dos aeroportos, por telefone ou até pela internet.


Ao realizar o voo sem, possivelmente, ter acessado previamente informações meteorológicas, o piloto expôs a equipe de reportagem a uma situação de risco desnecessário. Tratou-se, obviamente, de mais um traço sensacionalista e sem conteúdo informativo.


A respeito do momento da reportagem em que o controle do espaço aéreo diz que não tem visualização da aeronave, cabe esclarecer que o voo realizado pela equipe do Fantástico ocorreu à baixa altitude, em regras de voos visuais, uma situação diferente dos voos comerciais regulares.


Na faixa de altitude utilizada por aeronaves como das empresas TAM e GOL, extensamente mostradas durante a reportagem, há cobertura radar sobre todo o território brasileiro. Para isso, existem hoje 170 radares de controle do espaço aéreo no país. Como dito acima, é feita uma confusão entre perfis de voos completamente diferentes. Dessa forma, o telespectador do Fantástico ficou privado de ter acesso a informações que certamente contribuem para a melhor apresentação dos fatos.


No último trecho de voo da reportagem, o órgão de controle determinou a espera para pouso no Aeroporto Santos-Dumont. O que foi retratado na matéria como algo absurdo, na realidade seguiu rigorosamente as normas em vigor para garantir a segurança e fluidez do tráfego aéreo. Os voos de linhas regulares, na maioria das vezes regidos por regras de voo por instrumentos, gozam de precedência sobre os não regulares, visando a minimizar quaisquer problemas de fluxo que possam afetar a grande massa de usuários.


A reportagem também errou ao mostrar que Traffic Collision Avoidance System (TCAS) é acionado somente em caso de acidente iminente. O fato do TCAS emitir um aviso não significa uma quase-colisão, e sim que uma aeronave invadiu a “bolha de segurança” de outra. Essa bolha é uma área que mede 8 km na horizontal (raio) e 300 metros na vertical (raio).


Cabe ressaltar ainda que a invasão da bolha de segurança não significa sequer uma rota de colisão, pois as aeronaves podem estar em rumos paralelos ou divergentes, ou ainda com separação de altitude, em ambiente tridimensional.


A situação pode ser corrigida pelo controle do espaço aéreo ou por sistemas de segurança instalados nos aviões, como o TCAS. Nem toda ocorrência, portanto, consiste em risco à operação. O TCAS, por exemplo, pode emitir avisos indesejados, pois o equipamento lê as trajetórias das aeronaves, mas não tem conhecimento das restrições impostas pelo controlador.


Todas as ocorrências, no entanto, dão início a uma investigação para apurar os seus fatores contribuintes e geram recomendações de segurança para todos os envolvidos, sejam controladores, pessoal técnico ou tripulantes. É esse o caso dos 24 relatórios citados na reportagem. A existência desses documentos não significa a ocorrência de 24 incidentes de tráfego aéreo, e sim uma consequência direta da cultura operacional de registrar todas as situações diferentes da normalidade com foco na busca da segurança.


A investigação tem como objetivo manter um elevado nível de atenção e melhorar os procedimentos de tráfego aéreo no Brasil, pois é política do Comando da Aeronáutica buscar ao máximo a segurança de todos os passageiros e tripulantes que voam sobre o país. Incidentes e acidentes não são aceitáveis em nenhum número, em qualquer escala.


Sobre a questão dos controladores de tráfego aéreo, ao contrário da informação veiculada, o Brasil tem atualmente mais de 4.100 controladores em atividade, entre civis e militares. No total, são mais de 6.900 profissionais envolvidos diretamente no tráfego aéreo, entre controladores e especialistas em comunicação, operação de estações, meteorologia e informações aeronáuticas.


Para garantir a segurança do controle do espaço aéreo no futuro, o Comando da Aeronáutica investe na formação de controladores de tráfego aéreo. A Escola de Especialistas de Aeronáutica forma anualmente 300 profissionais da área. Todos seguem depois para o Centro de Simulação do Instituto de Controle do Espaço Aéreo (ICEA), inaugurado em 2007 em São José dos Campos (SP). Com sistemas de última geração e tecnologia 100% nacional, o ICEA ampliou de 160 para 512 controladores-alunos por ano, triplicando a capacidade de formação e reciclagem.


Vale salientar que a ascensão operacional dos profissionais de controle de tráfego aéreo ocorre por meio de um conselho do qual fazem parte, dentre outros, os supervisores mais experientes de cada órgão de controle de tráfego aéreo. Desse modo, nenhum controlador de tráfego aéreo exerce atividades para as quais não estejam plenamente capacitados.


A qualidade desses profissionais se comprova por meio de relatório do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (CENIPA). De acordo com o Panorama Estatístico da Aviação Civil Brasileira, dos 26 tipos de fatores contribuintes para ocorrência de acidentes no país entre 2000 e 2009, o controle de tráfego aéreo ocupa a 24° posição, com 0,9%. O documento está disponível no link:

http://www.cenipa.aer.mil.br/cenipa/Anexos/article/19/PANORAMA_2000_2009.pdf


A capacitação dos recursos humanos faz parte dos investimentos feitos pelo DECEA ao longo da década. Entre 2000 e 2010, foram R$ 3,3 bilhões, sendo R$ 1,5 bilhão somente a partir de 2008. O montante também envolve compra de equipamentos e a adoção do Sistema Avançado de Gerenciamento de Informações de Tráfego Aéreo e Relatórios de Interesse Operacional (SAGITÁRIO), um novo software nacional que representou um salto tecnológico na interface dos controladores de tráfego aéreo com as estações de trabalho. O sistema tem novas funcionalidades que permitem uma melhor consciência situacional por parte dos controladores. Sua interface é mais intuitiva, facilitando o trabalho de seus usuários.


Os resultados desses investimentos foram demonstrados pela auditoria realizada em 2009 pela International Civil Aviation Organization (ICAO), organização máxima da aviação civil, ligada às Nações Unidas, com 190 países signatários. A ICAO classificou o Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro entre os cinco melhores no mundo. De acordo com a ICAO, o Brasil atingiu 95% de conformidade em procedimentos operacionais e de segurança.


Sem citar quaisquer dessas informações, para realizar sua reportagem, a equipe do Fantástico exibe depoimentos sem ao menos pesquisar qual a motivação dessas fontes. O Sr. Edileuzo Cavalcante, por exemplo, apresentado como um importante dirigente de uma associação de controladores, é acusado por atentado contra a segurança do transporte aéreo, motim e incitação à indisciplina, e responde por essas acusações na Justiça Militar.


O Sr. Edileuzo Cavalcante foi afastado da função de controlador de tráfego aéreo em 2007 e recentemente excluído das fileiras da Força Aérea Brasileira. Em 2010, também teve uma candidatura impugnada pela Justiça Eleitoral.


Quanto à informação sobre as tentativas de chamada por parte do controlador de tráfego aéreo, Sargento Lucivando Tibúrcio de Alencar, no caso do acidente ocorrido com a aeronave da Gol (PR-GTD) e a aeronave da empresa Excel Aire (N600XL) em 29 de setembro de 2006, cabe reforçar que elas não obtiveram sucesso devido à aeronave da Excel Aire não ter sido instruída oportunamente a trocar de frequência e não a qualquer deficiência no equipamento, conforme verificado em voo de inspeção. Durante as tentativas de contato, a última frequência que havia sido atribuída à aeronave estava fora de alcance, impossibilitando o estabelecimento das comunicações bilaterais.


Já quando foi consultar o Departamento de Controle do Espaço Aéreo, a equipe de reportagem omitiu o fato que trataria de problemas de tráfego aéreo. Foi informado que se tratava unicamente sobre a evolução do tráfego aéreo de 2006 a 2011.


Por fim, o Centro de Comunicação Social da Aeronáutica ressalta que voar no país é seguro, que as ferramentas de prevenção do Sistema de Controle do Espaço Aéreo Brasileiro estão em perfeito funcionamento e que todas as ações implementadas seguem em concordância com o volume de tráfego aéreo e com as normas internacionais de segurança. No entanto, este Centro reitera que a questão da segurança do tráfego aéreo no país exige um tratamento responsável, sem emoção e desvinculado de interesses particulares, pessoais ou políticos.


Brasília, 9 de agosto de 2011.

Brigadeiro-do-Ar Marcelo Kanitz Damasceno

Chefe do Centro de Comunicação Social da Aeronáutica

(*) Em nenhuma democracia séria do mundo, jornais conservadores, de baixa qualidade técnica e até sensacionalistas, e uma única rede de televisão têm a importância que têm no Brasil. Eles se transformaram num partido político – o PiG, Partido da Imprensa Golpista

terça-feira, 9 agosto, 2011 Posted by | Repassando... | , , | Deixe um comentário