Livre pensar é só pensar!

Para não desligar os neurônios

Sobre a Mãe Terra e os conceitos utópicos, mas necessários…

Colunistas| 24/05/2013

Responsabilidade face ao futuro da espécie humana

A aceitação do conceito da Mãe Terra, inclusive pelas Nações Unidas, vem ao encontro daquilo que já nos anos 20 do século passado o geoquímico russo Wladimir Vernadsky conceitualizou como biosfera. Esse reconhecimento comporta consequências importantes. A mais imediata delas é que a Terra viva é titular de direitos.

Leonardo Boff

Numa votação unânime de 22 de abril de 2009 a ONU acolheu a ideia, durante muito tempo proposta pelas nações indígenas e sempre relegada, de que a Terra é Mãe. Por isso a ela se deve o mesmo respeito, a  mesma veneração e o mesmo cuidado que devotamos às nossas mães. A partir de agora, todo dia 22 de abril não será apenas o dia da Terra, mas o dia da Mãe Terra.
Esse reconhecimento comporta consequências importantes. A mais imediata delas é que a Terra viva é titular de direitos. Mas não só ela e, sim, também todos os seres orgânicos e inorgânicos que  a compõem; são, cada um a seu modo, também portadores de direitos. Vale dizer, cada ser possui valor intrínseco, como enfatiza a Carta da Terra, independentemente do uso ou não que fizermos dele. Ele tem direito de existir e de continuar a existir neste planeta e de não ser maltratado nem eliminado.
Essa aceitação do conceito da Mãe Terra vem ao encontro daquilo que já nos anos 20 do século passado o geoquímico russo Wladimir Vernadsky (1983-1945), criador do conceito de biosfera (o nome foi cunhado do geólogo  austríaco  Eduard Suess (1831-1914) que chamava de ecologia global no sentido de ecologia o globo terrestre como um todo. Conhecemos a ecologia ambiental, a politico-social e a mental.  Faltava uma ecologia global da Terra tomada como uma complexa unidade total. Na esteira do geoquímico russo, recentemente, James Lovelock,  com dados empíricos novos, apresentou a hipótese Gaia, hoje já aceita como teoria científica: a Terra efetivamente comparece como um superorganismo  vivo que se autorregula, tese apoiada pela teoria dos sistemas, da cibernética e pelos biólogos chilenos Maturana e Varela.
Vernadsky entendia a biosfera como aquela camada finíssima que cerca a Terra, uma espécie de sutil tecido indivisível que capta as irradiações do cosmos e da própria Terra e as transforma em energia terrestre altamente ativa. A vida se realiza aqui.
Nesse todo se encontra a multiplicidade dos seres em simbiose entre si, sempre interdependentes de forma que todos se autoajudam para existir, persistir e co-evoluir. A espécie humana é parte deste todo terrestre, aquela porção que pensa, ama, intervém e constrói civilizações.
A espécie humana possui uma singularidade no conjunto dos seres: cabe-lhe a responsabilidade ética de cuidar, manter as condições que garantam a sustentabilidade do todo.
Como  descrevemos no artigo anterior, vivemos gravíssimo risco de destruir a espécie humana e todo o projeto planetário. Fundamos, como afirmam alguns cientistas, o antropoceno: uma nova era geológica com altíssimo poder de destruição, fruto dos últimos séculos que significaram  um desarranjo perverso do equilíbrio do sistema Terra. Como enfrentar esta nova situação nunca ocorrida antes de forma globalizada?
Temos pessoalmente trabalhado os paradigmas da sustentabilidade e do cuidado como relação amigável e cooperativa para com a natureza. Queremos agora, brevemente, apresentar um complemento necessário: a ética da responsabilidade do filósofo alemão Hans Jonas (1903-1993) com o seu conhecido Princípio responsabilidade, seguido pelo Princípio vida.
Jonas parte da triste verificação de que o projeto da tecno-ciência tornou a natureza extremamente vulnerável a ponto de não ser impossível o desaparecimento a espécie humana. Daí emerge a responsabilidade humana, formulada neste imperativo: Aja de tal  maneira que os efeitos  de suas ações não destruam a possibilidade futura da vida.
Jonas trabalha ainda com outra categoria que deve ser bem entendida para não provocar uma paralisação: o temor e o medo  (Furcht). O medo aqui possui um significado pedestre, um medo que nos leva instintivamente  a preservar a vida e toda a espécie. Há efetivamente o temor de que se deslanche um processo irrefreável de destruição em massa, com os meios diante dos quais não tínhamos temor em construir e que, agora, temos fundado temor de que nos podem realmente destruir a todos. Daí nasce a responsabilidade face às novas tecnociências como a biotecnologia e a nanotecnologia, cuja capacidade de destruição é inconcebível. Temos que realmente nos responsabilizar pelo futuro da espécie humana por temor do desaparecimento e muito mais por amor à nossa própria vida. Queremos viver e irradiar.

Leonardo Boff é teólogo e escritor

quinta-feira, 30 maio, 2013 Posted by | Repassando... | , , | Deixe um comentário

Onisciência também cansa…

Enviada por Ricardo Miranda

via Um Sábado Qualquer de Carlos Ruas em 30/05/13

2070

quinta-feira, 30 maio, 2013 Posted by | Humor, Repassando... | , , | Deixe um comentário

Ser ou não Ser?… Que questão…

Em minhas madrugadas insones, muitas vezes descubro coisas interessantes. Não só por estar acordado, mas porque os canais televisivos escolhem estes períodos de menor audiência para veicular temas, personagens e fatos carentes de IBOPE, por fugirem da mesmice imbecilizante dos Encontro, Mais Você, Xou da Xuxa, Caldeirão, Brasil Urgente e outros que tais. Daí que tenho visto ótimas entrevistas e documentários profundos de intelectuais variados como Leandro Karnal, Domenico De Masi, Luis Felipe Pondé, entre tantos outros.

Nesta madrugada, foquei-me no Pondé, em uma entrevista antiga do Canal Livre, veiculada pelo Canal Terra, pela segunda ou terceira vez. Só esta veiculação insistente por um canal do agronegócio já é suspeita de um pretenso conservadorismo do filósofo pernambucano. Mas entendo a insistência valorativa: Pondé, por ser crítico livre, quase anárquico, das coisas do mundo, vagueia pelos extremos ideológicos das sociedades contemporâneas, atirando certeiramente nos flancos vulneráveis dos sistemas sociais de qualquer natureza. E, por sua profundidade filosófica radical, muitas vezes não é lido (ou ouvido) corretamente, sofrendo por isto enquadramentos pejorativos (e/ou oportunistas) dos extremos ideológicos vigentes e persistentes. No caso da entrevista citada, tudo leva a crer que o apoio insistente do Canal Terra deve-se ao fato de sua abordagem central ter sido o “coitadismo“, conceito hoje predominante nos movimentos sociais e que transforma em vítimas inocentes do sistema hegemônico todos aqueles que não conseguem ascender socialmente. E vai mais fundo: desanca o argumento dos intelectuais de esquerda  de que há uma dívida histórica a ser resgatada e que justifica todas as vitimizações, incluindo aí até mesmo a criminalidade reinante.

Bem, em relação ao interessante conceito do coitadismo, há um radicalismo divergente (ambivalente?) de leitura entre a esquerda e a direita política: os conservadores gostaram por ver nos seus argumentos o que sempre sibilaram: pobre se faz de coitadinho para viver a custa dos outros; a esquerda odiou por culpar os pobres pela miséria, justificando à direita o preconceito oportunista para combater políticas públicas de natureza social.

Em verdade, cabe uma leitura bem menos radical ideologicamente. Ele discorda do coitadismo radical que prega a inocência integral dos marginalizados e da tal da dívida histórica que, pelo jeito, nunca será paga. Discorda ainda dos argumentos de inocência do capitalismo selvagem. Mas concorda com as políticas sociais de resgate da pobreza (como os atuais programas federais), desde que elas sejam finitas, através da criação de oportunidades objetivas e emancipatórias de educação, trabalho e renda. Diz mais: até mesmo em países desenvolvidos, como a Inglaterra, há famílias que não trabalham há três gerações, acomodando-se nas políticas de bem-estar social do Estado. E vai mais fundo: políticas puramente assistencialistas, não só não resolvem o problema como podem reduzir a auto-estima dos beneficiários, criando um estado letárgico de impotência pessoal e social.

Em assim enxergando, o Pondé entra na minha lista de autores a curtir, começando por seu último livro, recém-lançado, “Guia Politicamente Incorreto da Filosofia” (2012). E como aperitivo, degusto uma reflexão profunda e atual dele: “Sem   hipocrisia não há civilização, e isso é a prova de que somos desgraçados:   precisamos da falta de caráter como cimento da vida coletiva”.

E para vocês que ainda não conhecem este cara polêmico  e quase anárquico (por que livre pensador), deixo abaixo uma de suas reflexões publicadas em colunas jornalísticas.

Boa leitura…
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O terror da ambivalência (27.05.2013)

                       

Você esconderia judeus em sua casa durante a França ocupada pelos nazistas? Não, não precisa responder em voz alta. Melhor assim, para não passarmos a vergonha de ouvirmos nossas mentiras quando na realidade a janta, o bom emprego e a normalidade do cotidiano sempre valeram mais do que qualquer vida humana. Passado o terror, todos viramos corajosos e éticos.

Anos atrás, enquanto eu esperava um trem na estação de Lille, na França, para voltar para Paris, onde morava na época -ainda bem que tinha minha família comigo porque Paris é uma cidade hostil-, li a resenha de um livro inesquecível na revista “Nouvel Observateur”. Nunca li esse livro, nem lembro seu nome, mas a resenha era promissora. Entrevistas com filhos e filhas de pessoas que esconderam judeus em casa durante a Segunda Guerra davam depoimentos de como se sentiram quando crianças diante dos atos de coragem de seus pais e suas mães.

A verdade é que essas crianças detestavam o ato de bravura de seus pais. Sentiam (com razão?) que não eram amados pelos pais, que preferiam pôr em risco a vida deles a protegê-los, recusando-se a obedecer a ordem: quem salvar judeus morre com eles. Podemos “desculpar” as crianças dizendo que eram crianças. Nem tanto. Adolescentes também sentiam o mesmo abandono por parte dos pais corajosos. Cônjuges idem.

Está justificada a covardia em nome do amor familiar? Nem tanto, mas deve-se escolher um estranho em detrimento de um filho assustado? Tampouco dizer que os covardes também seriam vítimas vale, porque o que caracteriza a coragem é exatamente não se deixar fazer de vítima — coisa hoje na moda, isto é, se fazer de vítima.

Não foi muito diferente aqui no Brasil durante a ditadura, guardando-se, claro, as diferenças de dimensão do massacre. No entanto, não me interessa hoje essa questão da falsa ética quando o risco já passou — a moral de bravatas. Mas sim a ambivalência insuportável que uma situação como essa desvela, na sua forma mais aguda.

Ou meu pai me ama ou ama o judeu escondido em minha casa, ou, ele me ama, mas não consegue dormir com a ideia de que não salvou alguém que considerava vítima de uma injustiça, e por isso me põe em risco. Eis a razão mais comum dada por esses pais, quando indagados, da razão de pôr em risco sua vida e família: “Não conseguia fazer diferente”. Mas a ambivalência da vida não se resume a casos agudos como esses.

Freud descreveu os sentimentos ambivalentes da criança para com o pai no complexo de Édipo: amo meu pai, mas quero também me livrar dele, e também sinto culpa por sentir vontade de me livrar dele. Independente de crer ou não em Freud plenamente (sou bastante freudiano no modo de ver o mundo, e Freud foi o primeiro objeto de estudo sistemático em minha vida), a ambivalência aí descrita serve como matriz para o resto da vida.

Os pais amam os filhos (nem sempre), mas ao mesmo tempo ter filhos limita a vida num tanto de coisas (e hoje em dia muita mulher deixa para ser mãe aos 40 por conta deste medo, o que é péssimo porque a mulher biologicamente deve ser mãe antes dos 35). Apesar dos gastos intermináveis, no horizonte jaz o possível abandono na velhice por parte destes mesmos filhos “tão” amados.

Mas, ao mesmo tempo, não ter filhos pode ser uma chance enorme para você envelhecer como um adulto infantil que tem toda sua vida ao redor de suas pequenas misérias narcísicas.

Casamento é a melhor forma de deixar de querer transar com alguém devido ao esmagamento do desejo pela lista infinita de obrigações que assola homens e mulheres, dissolvendo a libido nos cálculos da previdência privada.

Mas, ao mesmo tempo, a liberdade deliciosa de transar com quem quiser (ficar solteiro), com o tempo, facilmente fará de você uma paquita velha ridícula sozinha que confunde pagar por sexo com um homem mais jovem com emancipação feminina. E, no caso do homem, o tiozão babão espreita a porta.

E, também, terá razão quem disser que mesmo casando você poderá vir a ser uma paquita velha ou um tiozão babão.

Quantas ambivalências espera você nessa semana?

Luiz Felipe Pondé (jornal FSP – 27.05.2012)

quarta-feira, 29 maio, 2013 Posted by | Comentário, Repassando... | , , , | Deixe um comentário

Falta identificar o mandante…

Denúncias
Via viomundo.com.br

Empresa de telemarketing foi usada para espalhar boato sobre Bolsa Família

publicado em 25 de maio de 2013 às 0:01

Tania Rego, Agência Brasil

PF identifica empresa de telemarketing do Rio que espalhou boatos do Bolsa Família

Descoberta reforça a tese de que a ação tenha sido organizada

JAILTON DE CARVALHO, em O Globo

Publicado: 24/05/13 – 19h08 Atualizado: 24/05/13 – 19h42

BRASÍLIA – Em menos de uma semana de investigação, a Polícia Federal descobriu indícios de que uma central de telemarketing com sede no Rio de Janeiro foi usada para difundir o boato de que o Bolsa Família, o principal programa social do governo federal, iria acabar. Mensagem de voz distribuída pela central anuncia o fim do programa, conforme dados do inquérito aberto no início da semana a partir de uma determinação do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. A descoberta reforça a tese de que a ação tenha sido organizada.

A polícia tentará agora descobrir quem contratou os serviços de telemarketing e se, de fato, existe algum grupo com interesse político-eleitoral por trás da tentativa de se assustar os beneficiários do Bolsa Família. A polícia decidiu também interrogar, a partir da próxima semana, as 200 primeiras pessoas a fazer saques logo após o início da disseminação dos boatos sobre o fim dos programas. A polícia quer saber como cada um deles foi informado sobre o fim do programa.

— Está comprovado o uso do telemarketing — disse ao GLOBO uma fonte que está acompanhando de perto as investigações.

Os boatos sobre o falso fim do programa começaram a ser difundidos no sábado passado e provocaram uma corrida em massa à agências da Caixa Econômica Federal, pagadora do benefício. Os primeiros saques foram feitos no Maranhão, Pará e Ceará por volta de 11h do sábado passado, 30 minutos depois do registro de uma das ligações da central de telemarketing sobre o falso fim do programa. No dia seguinte, os terminais da Caixa registravam 900 mil saques no valor total de R$ 152 milhões.

A presidente Dilma Rousseff classificou a ação de criminosa. Cardozo disse que a hipótese mais provável é que se tratava de uma manobra orquestrada. A ministra da Secretaria Nacional de Direitos Humanos,Maria do Rosário, chegou a insinuar, no twitter que os boatos teriam partido da oposição. Líderes da oposição reagiram e passaram a levantar suspeitas sobre setores do governo que, no fim das contas, acabariam obtendo dividendos políticos com o caso.

Os investigadores do caso tentam se manter longe dos embates políticos, mas não descartam que o episódio tenha alguma conotação eleitoral. O Bolsa Família tem sido motivo de debate nas principais eleições nos últimos anos. A partir do aprofundamento sobre o uso do telemarketing e de declarações dos beneficiários, a polícia entende que poderá esclarecer o caso.

PS do Viomundo: Tem dinheiro no meio. Quem investiria dinheiro nisso, que não fosse por interesse eleitoral?

sábado, 25 maio, 2013 Posted by | Repassando... | , | Deixe um comentário

Oh! Dúvida cruel…

sábado, 25 maio, 2013 Posted by | Repassando... | , , | Deixe um comentário

Boato criminoso demonstra a força desesperada dos excluídos…

23/05/2013

O alerta do Bolsa Família: quem sabe faz a hora

                Uma dimensão negligenciada  do boato sobre a extinção do Bolsa Família foi a mobilização instantânea de 900 mil pessoas, detentoras do benefício em 13 estados.
O alarme falso, de natureza e origem ainda indefinidas, foi orquestrado, sobretudo, no Norte e Nordeste do país.
Mais de R$ 150 milhões em benefícios seriam sacados nessas regiões.
Tudo em 48 horas; num fim de semana.
O valor significativo mereceu destaque.
As suspeitas quanto à origem da mentira produziram vapor.
Mas o potencial político da mobilização de dezenas de milhares  de pessoas tocadas pela ameaça a um direito adquirido, persistiu  na sombra.
Não deveria.
Essa foi a primeira manifestação conjunta, não eleitoral, de um universo de brasileiros considerado uma esfinge política à direita e à esquerda.
Se  foi um ensaio de coisa pior, certamente a octanagem da amostra  está sendo analisada com cuidado por quem de direito.
Ainda que as investigações desqualifiquem tal suspeita, o governo não deveria menosprezar a preciosa  informação que lhe chegou por vias tortas.
Criado há dez anos sob o guarda-chuva da política brasileira de segurança  alimentar , apelidada de Fome Zero, o Bolsa Família tem poder inflamável 14 vezes superior à escala das mobilizações registradas no Norte e no Nordeste.
Quase 14 milhões de famílias em todo o país (leia a análise de Eric Nepomuceno; nesta pág) tem direito às transferências do programa, de US$ 35, em média, por mês.
As mulheres detém a titularidade de 94% dos cartões de acesso aos saques.
Gerem, portanto, um benefício que contempla uma fatia da população equivalente a 52 milhões de brasileiros: 25% do país.
Quem são essas mulheres? O que pensam? O que pretendem do desenvolvimento do país? Que papel  podem ter na democracia brasileira?
O governo, com razão, substituiu o ‘clientelismo’ potencial em qualquer programa social por um cartão magnético do  Bolsa Família.
A tecnologia estabeleceu  uma relação direta sanitária entre o detentor do benefício e a política pública de Estado.
O cuidado louvável encerra, no entanto, uma contrapartida de rebaixamento político, que o episódio do falso boato talvez a ajude a corrigir.
Quando foi criado em janeiro de 2003, o Fome Zero, repita-se, nome fantasia da política de segurança alimentar brasileira, que envolve agricultura familiar, merenda escolar, transferência de renda etc , incluía uma dimensão participativa.
Rapidamente ela seria demonizada pelo conservadorismo.
Os Comitês Gestores do Fome Zero formavam a contrapartida de engajamento social do programa.
Eram compostos majoritariamente por representantes das famílias beneficiadas, aglutinadas em  núcleos municipais.
A emergência de um duplo poder local despertou virulenta oposição de prefeitos e coronéis políticos.
O cerco ao programa –que apresentava falhas na largada– era insuflado por uma mídia que transformaria a principal bandeira do novo governo em uma espécie de terceiro turno contra o PT.
Os comitês que deveriam cogerir e aperfeiçoar o FZ em parceria com a sociedade local, a prefeitura  e o governo federal foram extintos.
O recuo jogou para um futuro incerto a retomada do engajamento  indispensável em ações sociais de recorte emancipador.
Esse futuro pode ter chegado na forma de um alerta, travestido em boato explosivo.
Se a escala atingida pelo Bolsa Família deu razão ao recuo pragmático feito há dez anos, hoje a ausência de um fórum participativo para  as 14 milhões de famílias soa como uma aberração democrática.
O destino dessas famílias  está no centro das escolhas do desenvolvimento brasileiro.
E vice versa.
Esse entrelaçamento sócio-econômico  é uma pedra no sapato da agenda conservadora nos dias que correm.(Leia mais sobre esse tema no artigo do economista Amir Khair; nesta pág)
Em 2002, cerca de 75 milhões de brasileiros subsistiam com menos de meio salário mínimo per capita.
Mais da metade  dispunha de apenas 25%  do mínimo.
Formavam por assim dizer o rosto anônimo da fome brasileira, palavra então repelida até na academia.
Isso para não falar de sua rejeição em editoriais e colunas, inflexíveis na recusa à evidência biológica da desigualdade produzida pelos livres mercados.
Associada ao ganho real da ordem de 65% no poder de compra do salário mínimo, a política social dos últimos 11 anos tirou 30 milhões de brasileiros da miséria.
Quase 40 milhões ascenderam na pirâmide de renda no mesmo período.
O novo perímetro do consumo de massa redefiniu a geografia da produção e da demanda brasileira.
Na crise internacional de 2008, a novidade desdenhada até então pelo ‘jornalismo especializado’ provou a sua relevância estratégica.
O mercado interno sustentou e ainda sustenta a engrenagem econômica, diante da contração do comércio internacional.
O novo dínamo tem um custo permanentemente demonizado pelo conservadorismo. Inicialmente, de forma desabrida, condensado em expressão de sonoridade tão preconceituosa que dispensa explicações: ‘a gastança’.
Ela sumiu do vocabulário dos centuriões da ortodoxia depois que a política social provou sua pertinência contracíclica  diante da desordem neoliberal.
A motivação demolidora embutida no termo migrou para versões cifradas mais palatáveis.
‘Fazer mais e melhor’ é uma delas.
‘Reduzir o custo Brasil’, outra.
Uma que contagia inclusive alas contorcionistas do governo é a sebosa dissimulação do arrocho inscrita no bordão’ fazer mais  com menos’
O alvo é o de sempre.
A rubrica do orçamento federal denominada ‘transferências de renda às famílias’.
Ela ocupa espaço importante no centro da mira conservadora.
Incluem-se aí benefícios previdenciários, abono, seguro desemprego, benefícios assistenciais (da Lei Orgânica de Assistência Social e da Renda Mensal Vitalícia) e o programa Bolsa Família.
O conjunto demandou recursos da ordem de 9% do PIB em 2012.Mas seu raio de açaõ atinge direta ou indiretamente cerca de 100 milhões de pessoas; 52% do país.
O que o conservadorismo carimba como ‘gastança’  faz parte de uma mutação  inconclusa do desenvolvimento do país.
Uma sociedade que já viveu diferentes ciclos de expansão  –da colônia  à ditadura– chegou ao século 21 como uma das 15 piores distribuições de renda do planeta.
A lição é límpida.
Sem crescer é ilusório, mas o mero crescimento pode ter efeito irrelevante na construção da justiça social.
Além de engordar o PIB, a sociedade precisa fixar estacas de regulação que revertam os ganhos (indispensáveis) de produtividade ao bem comum.
Essa é uma tarefa da democracia, não dos mercados.Ao contrário do que apregoam os arautos do choque de ‘abertura externa e de corte de gastos’ (leia-se, laissez-faire com arrocho na previdência e corrosão do salário mínimo).
Estados fragilizados, descarnados por privatizações, sucateamento de quadros, obsolescência de gestão e atrofia fiscal que asfixia o investimento público são incapazes de catalisar as aspirações da sociedade na direção de um desenvolvimento convergente.
A reconstrução do Estado Social é uma ferramenta decisiva à reordenação da agenda do desenvolvimento em nosso tempo.
Mas isso não se faz sem sujeito histórico correspondente, dotado de organização mínima que institucionalize seus interesses.
Obama, por exemplo, não conseguiria ser o Roosevelt da crise atual.
Nem que quisesse.
Faltam-lhe as bases organizadas, necessárias à condução de um Estado social e keynesiano.
Algo que o sindicalismo combativo dos anos 30/40 propiciou ao democrata que comandou os EUA entre 1933 e 1945.
O Estado social brasileiro é uma arquitetura política em construção. Com progressos, recuos e contradições sabidos.
Não avançará muito mais se menosprezar as forças catalisadas pelas políticas sociais  dos últimos dez anos.
A assustada reação dos beneficiários do Bolsa Família no Norte e Nordeste, com o boato do fim do programa, enseja variadas reflexões.
Mas uma delas é promissora.
A ninguém ocorre fazer de 14 milhões de famílias uma correia de transmissão de conveniências de governos. Sejam eles quais forem.
Negar canais de expressão às demandas e aspirações específicas  desse contingente, no entanto, é entregá-lo a toda sorte de manipulações.
O boato de maio pode ter sido obra de meros irresponsáveis.
Mas serve de alerta.
Um governo atento não negligencia  o potencial revelado pelos alertas da história.
Em 29 de junho de 1973, um ‘tancaço’ de militares rebelados  emitiu um alerta incorretamente interpretado pelo presidente socialista de um Chile até então considerado ‘fronteira inexpugnável da democracia regional’.
Em lugar de promover um salto na autodefesa popular, ele promoveu um general ‘profissional’ a ministro da Defesa, por supostamente ter debelado o levante dos blindados.
Todos sabem como o agraciado Augusto Pinochet utilizou seu profissionalismo contra Salvador Allende, quarenta e dois dias depois.
Dificilmente os comitês gestores do Fome Zero serão ressuscitados.
Mas a meta original de dar voz e espaço  na condução do programa aos seus principais interessados pode e deve ser recuperada.
Uma Conferência Nacional das mulheres que fizeram do Bolsa Família uma referência mundial na luta contra a fome e a miséria, por certo adicionaria avanços ao programa.
E musculatura à cidadania  brasileira.
Mais que isso.
Responderia aos alertas da história com um contrafogo democrático de amplo espectro. Em defesa não apenas do Bolsa Família. Mas do Estado social  que o Brasil precisa fortalecer para acelerar a mutação do seu desenvolvimento.

Postado por Saul Leblon às 20:13

sábado, 25 maio, 2013 Posted by | Uncategorized | , | Deixe um comentário

Os direitos humanos do Titio…

Direitos Humanos| 24/05/2013
Via Cartamaior.com.br

 A greve de fome em Guantánamo e as promessas de Obama

A greve de fome na prisão passa de 100 dias. Os Estados Unidos, e o presidente Obama, estão lidando da pior forma possível com a questão. Sabe-se que 90% dos detentos nunca foram acusados oficialmente de crime algum. Após cinco anos de governo, passou da hora de o presidente cumprir suas promessas de campanha. Por Steven Hsieh, da AlterNet

Steven Hsieh*

Sexta-feira passada (17) marcou o 100° dia desde o começo da greve de fome na Baía de Guantánamo, que recapturou a atenção internacional sobre a prisão que o presidente Obama prometeu fechar quando tentava se eleger, cinco anos atrás.
Autoridades militares disseram que 102 dos 166 prisioneiros estão participando da greve. Advogados dos prisioneiros dizem que esse número está próximo de 130.
Desde que a greve de fome começou há 100 dias, grupos internacionais, incluindo o Parlamento Europeu, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos e o Alto Comissariado da ONU para Direitos Humanos, e várias nações com prisioneiros em Guantánamo pressionaram a administração Obama a soltar os detidos ou fechar a prisão.
Aqui estão quatro dos fatos mais perturbadores sobre a situação em Guantánamo.
1. A tortura da alimentação forçada
Trinta dos 166 prisioneiros mantidos em Guantánamo estão sendo forçadamente alimentados – uma prática que é considerada tortura e violação da lei internacional pelo escritório de direitos humanos da ONU. No início da semana, a ACLU (sigla em inglês para “União Americana das Liberdades Civis”), e também um número considerável de organizações para os direitos humanos, enviaram uma carta para o secretário de Defesa, Chuck Hagel, insistindo no fim das alimentações forçadas em Guantánamo.
Enquanto os militares dizem que seria “desumano” deixar os prisioneiros morrerem de fome, vários grupos médicos e de direitos humanos discordam.
“Sob estas circunstâncias, seguir adiante e alimentar as pessoas à força não é apenas uma violação ética, mas pode ser elevada ao nível de tortura ou maus-tratos”, disse Peter Maurer, coordenador do Comitê Internacional da Cruz Vermelha.
O procedimento militar de alimentação forçada envolve empurrar um tubo no nariz do prisioneiro, através dos seios paranasais, garganta e, eventualmente, estômago. O processo inflige muita dor e desconforto. De acordo com uma análise de documentos militares feita por Al Jazeera, prisioneiros são algemados e forçados a “permanecerem sentados vestindo máscaras sobre suas bocas por cerca de duas horas” enquanto um suplemento nutricional é empurrado para seus estômagos. “Ao fim da alimentação, o prisioneiro é removido da cadeira e levado a uma ‘cela seca’ sem água corrente”, a Al Jazeera conta. “Depois, um guarda observa o prisioneiro por 45-60 minutos ‘para vigiar qualquer indicação de vômitos ou tentativas de induzir vômitos.’ Se o prisioneiro vomitar, o prendem novamente na cadeira.”

2. Supostas tentativas de “desintegrar” os grevistas
Surgiram várias denúncias de que os guardas de Guantánamo estão maltratando os grevistas com o objetivo de “desintegrá-los”. Advogados do prisioneiro iemenita Musaab al-Madhwani dizem que os guardas perseguem os grevistas negando-lhes água potável, forçando-os a beber água não potável de torneiras, e mantendo suas celas em temperaturas “extremamente geladas”, relatou a Agence France-Presse.
Outro advogado contou ao Russia Today que guardas estão retirando os prisioneiros em greve dos espaços de convívio e forçando-os a viver em celas individuais para enfraquecê-los mentalmente.

3. Mais da metade dos prisioneiros de Guantánamo tiveram seus casos esclarecidos para que sejam libertados. Noventa por cento nunca foram acusados de crime algum
Dos 166 prisioneiros de Guantánamo, 86 já tiveram seus casos esclarecidos para que sejam libertados, mas barreiras burocráticas e legais ainda os mantém presos por tempo indefinido. Em primeiro lugar, o Congresso impôs restrições às transferências dos presos, requisitando provas de que os possíveis transferidos nunca ofereceriam nenhum tipo de ameaça à segurança nacional dos EUA no futuro. Em coletiva de imprensa no último mês, o presidente Obama reiterou este fato, dizendo que ele “iria necessitar ajuda do Congresso.” Ainda, como vários analistas apontaram, o Congresso também garantiu a Obama o poder de transferir prisioneiros, um poder que ele nunca exerceu.
O que complica o processo são 56 iemenitas detidos em Guantánamo. Como explicou Alex Kane, o Iêmen é “um poderoso aliado dos EUA que também possui problemas com a Al-Qaeda na Península Árabe, um grupo que planejou ataques contra os EUA. Depois que um plano terrorista que supostamente teve origem no Iêmen foi interceptado, a administração Obama decidiu impedir a repatriação dos prisioneiros para o Iêmen.”

4. Nenhuma possibilidade de sair senão num caixão
A greve de fome se iniciou como uma resposta ao maltrato dos objetos pessoais, como Alcorões, dos prisioneiros, cometidos pelos guardas da prisão. Mas muitos analistas, organizações e prisioneiros apontaram que isto foi apenas a gota d’água. A greve representa a frustração dos prisioneiros por serem mantidos longe de suas famílias em condições desumanas, alguns detidos por mais de 11 anos.
“Estes homens não estão passando fome para que se tornem mártires… Eles fazem isso porque estão desesperados,” declarou Wells Dixos, um advogados que representa 5 prisioneiros de Guantánamo. “Eles estão desesperados para ficarem livres de Guantánamo, eles não veem outra alternativa que não seja sair num caixão.”
Samir Naji al Hasan Moqbel, explicou, numa conversa de telefone publicada na página de opinião do The New York Times, que a greve de fome é conduzida como um último recurso:
“A situação agora é desesperadora. Todos os prisioneiros estão sofrendo profundamente… eu já vomitei sangue.
E não há previsão de fim para nosso aprisionamento. Negarmo-nos a comer e arriscar a vida todos os dias é a escolha que fizemos.
Eu só espero que, por causa da dor que estamos sofrendo, os olhos do mundo irão se voltem a Guantánamo antes que seja tarde.”

*Steven Hsieh é assistente editorial do site AlterNet e escritor. Para segui-lo no twitter @stevenjhsieh
Tradução de Roberto Brilhante

Fotos: Outras Palavras

sábado, 25 maio, 2013 Posted by | Repassando... | , , | Deixe um comentário

Raizes do ódio…

segunda-feira, 20 maio, 2013 Posted by | Repassando... | , , , | Deixe um comentário

Eu tenho medos…

A Copa das confederações (o aperitivo para a copa do Mundo) está na porta e, desde já, os meus medos interiores se acirraram em relação ao nosso desempenho geral nestas duas competições, que poderão nos fazer respeitados ou desmoralizados em termos esportivos. Não que eu duvide da nossa capacidade de realizar bem estas duas competições, mas pela presença clara e cristalina de variáveis culturais e políticas complicadíssimas e capazes de entropizar os processos destes dois eventos.

Em termos do elenco escolhido pelo Felipão, tenho dúvidas sobre o desempenho de muitos novatos e sobre a não-convocação do Ronaldinho, já que todos estes jogadores, embora estejam bem em seus clubes, nunca tiveram tempo de treinar adequadamente, sempre reunidos de última hora e jogados às feras. Como, em meio a um grupo de novatos, pode-se abrir mão do futebol do veterano e brilhante Ronaldinho? Porque ele perdeu um penalti? Porque não arrasou nos jogos em que foi convocado? Se assim é, como se convocou jogadores que ainda sequer entraram em campo para jogar com a amarelinha? Creio piamente que a forma mambembe como a seleção se preparou(?) foi a principal causa do seu fraco desempenho, pois em todos os casos sempre enfrentou equipes que estavam treinadas e jogando continuamente, em face das eliminatórias para a Copa do Mundo.

E a incógnita deste desempenho da Seleção nos jogos a vir, bate de frente com a irracionalidade e irresponsabilidade das torcidas e da grande mídia esportiva. Torcidas que, ao invés de apoiarem, berram, vaiam, brigam, jogam artefatos no campo, invadem gramados e até matam. Mídia que se arvora em técnico, escala ou crucifica jogadores ao seu bel-prazer, fomenta situações de conflito entre a população, dirigentes e jogadores e que teima em priorizar sempre os aspectos negativos, dentro ou fora do gramado.

Mais um medo: as possibilidades de desastres infraestruturais nos estádios não podem ser desprezadas, já que conhecemos bem a canalhice dos grandes construtores do Brasil em superfaturar obras e sub-executar as mesmas. O vendaval nas obras do Marcanã, há poucos dias, e o fechamento do engenhão recém-inaugurado, são exemplos cristalinos dessas possibilidades.

Por último, o receio inevitável da politicagem a pressionar os dois eventos desde o nascedouro. A oposição raivosa, apoiados pela grande mídia vassala, desde os primeiros momentos buscou desacreditar as possibilidades dos governos (estaduais e federal) de realizarem as duas copas. Segundo estes corvos aliados, primeiro as obras não ficariam prontas a tempo; depois que as obras encontravam-se em atraso; em seguida que todas as obras estavam super-faturadas. E por aí tem vindo, passando pela exacerbação midiática diária da violência e inúmeras outras chorumelas. Para eles, o grande sonho é que tenhamos duas copas fracassadas, violentas e desestruturadas. Será a glória, pois assim terão matéria-prima para alimentar o terrorismo politico-eleitoral que já se encontra nas ruas.

Isso sem se falar nas possibilidades de atos terroristas, já que países em conflito participarão da competição. Além da criminalidade civil organizada que, muito provavelmente, aproveitarão as oportunidades para suas demonstrações de poder.

Que Deus seja realmente brasileiro…

quinta-feira, 16 maio, 2013 Posted by | Comentário | , , | Deixe um comentário

A democracia da Casa Grande…

No momento em que se exuma o corpo do ex-presidente João Goulart, morto de forma suspeita, para averiguar o seu possível envenenamento (denunciado por um militar argentino que trabalhou na repressão conjunta aos “subversivos” do continente), surge agora a denúncia de um militar brasileiro sobre o planejado ataque a este político trabalhista, antes de sua posse. Historicamente, este tipo de atitude “democrática” quase sempre foi a forma encontrada pelas classes reacionárias do país para resolver os impasses político-ideológicos, perdendo apenas para os grandes conchavos políticos (como a posse de Sarney, a eleição de Collor e, mais recentemente o conchavo judicial para o julgamento do Mensalão, só para citar os mais recentes).

Leiam a vergonhosa denúncia do militar brasileiro..

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Coronel-aviador narra operação para matar Jango em 61

Roberto Baere contou ter recebido ordens de comandante para preparar os caças que seriam usados no ataque ao avião que transportava o vice-presidente, mas se recusou a cumprir a missão


Em depoimento neste sábado (4) à Comissão Nacional da Verdade (CNV), no Rio, o coronel-aviador da reserva Roberto Baere contou detalhes da Operação Mosquito, conspiração de oficiais da Aeronáutica para matar João Goulart em 1961. O então vice, conhecido como Jango, estava prestes a assumir a Presidência da República após a renúncia de Jânio Quadros, em 25 de agosto, mas um grupo de militares de direita queria impedir a posse.

Goulart, do PTB, era apoiado por partidos de esquerda e identificado com o presidente Getúlio Vargas, que se matara em 1954 para reagir a pressões de setores golpistas ligados à UDN. Quando Jânio renunciou ao governo, em 25 de agosto de 1961, Goulart estava em viagem à China. Ciente da oposição da direita militar e civil, o vice demorou dias para voltar. Só chegou em 31 de agosto e desembarcou em Porto Alegre, onde não corria riscos porque as tropas gaúchas eram leais ao governo, assim como seu cunhado, o governador Leonel Brizola (PTB), que montara uma rede de rádios para apoiar a sua posse na Presidência – a Cadeia da Legalidade. Mas Jango precisava ir para Brasília, o que só ocorreu em 5 de setembro, depois que um acordo político resultou na aprovação do parlamentarismo. O plano dos golpistas era abater o avião em que Goulart faria essa viagem.

Baere, então tenente do 1º Grupamento de Aviação de Caça da Base Aérea de Santa Cruz, na zona oeste do Rio, contou neste sábado (4) ter recebido ordens do comandante da base, o tenente-coronel Paulo Costa (que já morreu), para preparar os caças que seriam usados no ataque ao avião que transportava o vice-presidente. Baere e três colegas se recusaram a cumprir a missão e pediram para não serem escalados. “Pedimos que ele não nos escalasse porque entramos nas Forças Armadas para defender a Constituição e não agredi-la.”

O plano acabou não sendo colocado em prática, mas Baere passou a ser perseguido e foi punido três anos depois, já durante a ditadura, instituída pelo golpe de 31 de março de 1964. “Fui sumariamente expulso, após ficar 50 dias incomunicável na prisão, policiado na porta por um oficial portando metralhadora, como se fosse um marginal de alta periculosidade”, afirmou.

Durante a audiência pública promovida neste sábado (4), a CNV ouviu depoimentos de vários militares que se opuseram ao golpe e foram punidos. Em 25 de março daquele ano, sete dias antes da deposição de Goulart, o fuzileiro naval Paulo Novais Coutinho foi enviado ao Sindicato dos Metalúrgicos, no centro do Rio, com ordens para dispersar uma reunião da Associação de Marinheiros e Fuzileiros Navais considerada ilegal pelo comando da Marinha. “Eu era da Companhia de Polícia e fui, em um pelotão de 39 homens, para reprimir a reunião. Mas a assembleia estava apoiando Goulart e, em vez de combater os colegas, colocamos as metralhadoras no chão, entramos no sindicato e apoiamos o movimento”, narra.

Coutinho acabou preso por 9 meses e expulso por indisciplina. “Só consegui voltar à Marinha em 1989, mas até hoje somos vistos com preconceito”, diz.

domingo, 5 maio, 2013 Posted by | Comentário, Repassando... | , , | Deixe um comentário